quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Amor

Se o amor é o melhor da vida, como acreditava Goethe, como enxergar nele um problema filosófico? E mais: como expor de maneira breve uma história deste problema? Podemos pensar que sua história começa na ascese em direção ao mais belo conhecimento, descrita por Platão no seu Banquete, ou podemos atentar ao que dele dizia Empédocles, tal como foi feito pelo poeta Hölderlin, e o responsabilizar pela união existente entre os mais diversos elementos da natureza. Imersos em uma tradição platônica, podemos pensar em uma distinção entre os objetos para o qual o amor é direcionado, bem como nas diferentes formas de direcioná-lo. Naquilo que se refere à figura divina, o seu mais elevado objeto, é possível misturá-lo com uma forte expressão emocional, como nos é oferecido pelo testemunho de Santo Agostinho em suas Confissões, ou vislumbrá-lo como uma ativa forma de pensamento, como afirmará Spinoza em sua Ética, retomando uma antiga concepção helenista. Podemos pensar na amizade (fundamental para um ­filosófo), e deitar os olhos sobre as afirmações da Ética a Nicômaco escrita por Aristóteles; pensar no Emílio, de Rousseau, e a importância concedida ao amor durante o processo pedagógico, bem como pensar no amor erótico e rememorar tudo aquilo que Freud problematizou ao final do século XIX com sua psicanálise recém inventada, inclusive nossos “tenros” sentimentos infantis. Podemos lembrar da língua grega, com suas três palavras para designar o amor, e conceder à linguagem a importância que nunca lhe foi concedida, como ocorre nos muitos trabalhos de Walter Benjamin, e em especial nos seus Ensaios sobre as Afinidades Eletivas de Goethe. Lembrar do amor de Pascal e sua célebre máxima, por toda a humanidade conhecida e repetida, de que o “coração tem razões que a própria razão desconhece”, gerada no curso de seus Pensamentos. Podemos pensar nas mais diversas expressões literárias, como o tempo perdido por Proust, e procurado de forma exaustiva ao longo de seus sete romances, o Quasimodo descrito por Victor Hugo em seu Notre Dame de Paris, o Werther de Goethe com sua inspiração suicida, ou Quixote de Cervantes com sua Dorotéia, para nos atermos à apenas algumas das prosas. Podemos incluir também os grandes poetas, afinal, um poema é um beijo no mundo, e se o amor é o melhor da vida, o beijo é o melhor do amor, e contar com a Odisséia, de Homero, a Eneida, de Virgílio, a Divina Comédia, de Dante, assim como com Camões, Byron, Fernando Pessoa, T. S. Eliot e Baudelaire. Por que não incluir os pequenos, e alojar neste conjunto o “poetinha” Vinícius de Moraes (o menor menor de Drummond), que tanto embalou a vida dos brasileiros com poemas e canções? E neste embalo sonhamos os mais belos sonhos e incluímos na nossa descrição as mais belas artes, pois é fato que o amor conduz o ser humano ao reino da beleza, como já fora expressado pelo Fedro, de Platão, sob a forma de um problema, e que toda construção histórica deste problema nos apresentará apenas uma possibilidade.


Para Nastassja Pugliese e nossos velhos projetos...

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