sábado, 25 de agosto de 2012

Signos Lunares

Como desenhar um grande amor sem rosto,
E contorná-lo com as linhas do destino?
Fazê-lo escapar das mazelas e desgostos
E tudo mais que sinceramente abomino?
Vou constelacionar os signos lunares,
Para protegê-lo por todos os lugares.

Seus elementos terão igual majestade,
Embora diferentes na íntima natureza.
Sua mitologia nos inspirará verdade,
Seu panteão nos apresentará beleza.
Água, ar, terra e fogo são prefácio
Na irrupção desse suntuoso palácio.

Localizado na profunda noite escura,
Alimentado pelas sobras das estrelas,
Das almas recolhe a simples candura
Da qual se utiliza para comovê-las.
A comoção desmede-se em desejo,
Sutilmente transformada num beijo.

domingo, 25 de março de 2012

Formatura

Uma das lembranças que levarei para sempre na minha vida é o momento em que olhei para a Turma 3110/09 da Escola Técnica Estadual Santa Cruz e pronunciei as seguintes palavras como Patrono de Formatura:

Em primeiro lugar, gostaria de registrar os meus sinceros agradecimentos à turma 3110 por me ter escolhido como Patrono de sua formatura. Se fizermos as contas, nossos encontros não totalizaram seis meses, e em um tempo extremamente curto conseguimos desenvolver um trabalho inesquecível. Pelo menos para mim.

O fato de uma aluna desta turma ter escolhido a Filosofia como carreira universitária ilustra bem o que estou querendo dizer. Mas não vou fazer aqui um elogio individual a cada um de vocês, que encerram agora o ciclo básico da educação. Pensei este discurso como uma pequena aula, e seu título bem que poderia ser “cuidado: o mundo vai mal”.

Nós podemos pensar o mundo das mais diversas maneiras. Desde um mundo pequeno, representado apenas por nossa casa, até o grande mundo da história e da civilização ocidental. Seja qual for a dimensão que vocês oferecerem a esta palavra, as críticas que Nietzsche e muitos outros filósofos lhe dirigiram demandam, exigem uma reflexão mais cuidadosa. Afinal, com grande medo de estar certo, penso que vivemos em um ambiente cultural onde a vontade de ignorância encontra-se cada vez mais presente.

Esta vontade de ignorância não precisa ser definida em detalhes. Acho que todos nós conhecemos pessoas que exemplificam esta ideia de maneira precisa. O que precisa ser esclarecido é que este tipo de vontade rompe com uma ideia filosófica que possui mais de dois mil anos. O responsável pela sua formulação explícita foi Aristóteles, que começou uma de suas obras afirmando que todo ser humano tem por natureza o desejo de conhecer, juntamente do movimento iluminista do século dezoito. Felizmente, nenhum deles sobreviveu para analisar a nossa época.

Não vou me alongar nesta exposição. Só queria sublinhar este conceito para realçar a responsabilidade de vocês neste mundo a partir de agora. Vocês, que agora estão formados por esta escola, puderam exercitar aqui dentro exatamente o inverso do que eu falei. Vocês exercitaram o aprendizado de uma maneira intensa e vigorosa, e eu fui um dos muitos espectadores deste movimento. Vocês aprenderam que não existe nada melhor do que uma vontade livre que conhece as razões de suas escolhas, pois é ela quem escapa da dureza do destino e da instabilidade do acaso. Um de meus ídolos intelectuais afirmou certa vez que a escravidão permanecerá por muito tempo como a característica nacional do Brasil. Peço sinceramente, para finalizar, que vocês acreditem nele e trabalhem duro para inverter este quadro.

Obrigado,