quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Origem do Drama Barroco Alemão

"O conceito do estilo filosófico é isento de paradoxos. Ele tem seus postulados que são: a arte da interrupção, em contraste com a cadeia das deduções, a tenacidade do ensaio, em contraste com o gesto único do fragmento, a repetição dos motivos, em contraste com o universalismo vazio, e a plenitude da positividade concentrada, em contraste com a polêmica negadora".

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Algumas Reflexões Sobre Diplomacia

Não é raro encontrar-se um arquiteto que tenha talento e visão para lançar no papel, em grandes linhas, com perfeição, um edifício suntuoso. É igualmente fácil encontrar-se quem, na construção da mesma obra, dê a cada tijolo tanta importância quanto deu o arquiteto a cada traço. o difícil é encontrar-se - e aí, talvez, resida em parte o gênio, quem quer que seja capaz das duas coisas, como Napoleão, por exemplo - quem possa executar, em miúdo, o que concebeu em grande, se assim se pode dizer. E o fenômeno é raro, por exigir qualidades que em geral procedem de formações intelectuais opostas.

(Maurício Nabuco, Algumas reflexões sobre diplomacia, 1955, p. 11)

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Máximas e Reflexões

O menor fio de cabelo lança sua sombra.

(Goethe, Máximas e Reflexões, máxima 1.390)

Humano Demasiado Humano

A Razão na Escola - A escola não tem tarefa mais importante do que ensinar o pensamento rigoroso, o julgamento prudente, o raciocínio coerente; por isso ela deve prescindir de todas as coisas que não são úteis a essas operações, por exemplo, da religião. Ela pode esperar que depois a falta de clareza humana, o hábito e a necessidade afrouxarão de novo o arco demasiado tenso do pensar. Mas enquanto durar sua influência, deve promover à força o que é essencial e distintivo no homem: "Razão e Ciência, suprema força do homem" - como pelo menos Goethe é de opinião.

(Nietzsche, Humano Demasiado Humano, aforismo 265)

Humano Demasiado Humano

Aliviando a Vida - Um dos principais meios de aliviar a vida é idealizar todos os seus eventos; mas é preciso obtermos da pintura uma noção clara do que é idealizar. O pintor solicita que o espectador não olhe de maneira demasiado aguda e precisa, ele o obriga a recuar uma certa distância para olhar; ele tem de pressupor um afastamento bem determinado do observador em relação ao quadro; deve até mesmo presumir, em seu espectador, um grau igualmente determinado de agudeza do olhar; em tais coisas ele não pode absolutamente hesitar. Portanto, quem quiser idealizar sua vida não deve querer vê-la com demasiada precisão, deve sempre remeter o olhar para uma certa distância. Desse artifício entendia Goethe, por exemplo.

(Nietzsche, Humano Demasiado Humano, aforismo 279)

sábado, 27 de novembro de 2010

(entrevisto em um ônibus)

Círculo Vicioso
Machado de Assis


Bailando no ar, gemia inquieto vaga-lume:
- Quem me dera que fosse aquela loura estrela,
que arde no eterno azul, como uma eterna vela !
Mas a estrela, fitando a lua, com ciúme:

- Pudesse eu copiar o transparente lume,
que, da grega coluna á gótica janela,
contemplou, suspirosa, a fronte amada e bela !
Mas a lua, fitando o sol, com azedume:

- Misera ! tivesse eu aquela enorme, aquela
claridade imortal, que toda a luz resume !
Mas o sol, inclinando a rutila capela:

- Pesa-me esta brilhante aureola de nume...
Enfara-me esta azul e desmedida umbela...
Porque não nasci eu um simples vaga-lume?

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Reflexões e Máximas

"Alguns autores tratam a moral como é tratada a nova arquitetura, na qual se busca, antes de tudo, a comodidade."

"Somos demasiado desatentos, ou ocupados demais com nós-mesmos para nos determos nos outros. Quem já viu mascarados dançando amigavelmente num baile, dando-se as mãos sem se conhecerem, se separarem no instante seguinte e não mais se verem ou sentirem falta um do outro, pode ter uma idéia do mundo."


(Vauvernagues, Reflexões e Máximas, Editora Paraula)

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Máximas e Reflexões

Um nobre filósofo falou da arquitetura como uma música cristalizada e viu algumas cabeças sendo balançadas em sinal de desaprovação. Acreditamos que não é possível reintroduzir melhor este belo pensamento do que se designássemos à arquitetura a música emudecida.

Lembremo-nos de Orfeu, que, quando lhe indicaram um grande e ermo canteiro de obras, sentou-se prudentemente no lugar mais apropriado e formou em torno de si um vasto mercado com os tons vivificantes de sua lira. As rochas rapidamente tomadas por tons fortemente dominantes e amistosamente sedutores, arrebatadas pelo seu todo massivo, precisaram se configurar de maneira artística e artesanal, à medida que se movimentavam entusiasticamente para lá. Por fim, elas se reordenaram adequadamente em camadas e escarpas rítmicas. E é assim que uma rua tem de se juntar à outra! Tampouco faltarão muros protetores.

Os tons ecoam, mas a harmonia permanece. Os cidadãos de uma tal cidade passeiam e tecem entre melodias eternas; o espírito não pode afundar, a atividade não pode adormecer, o olhar assume a função, a tarefa e o dever do ouvido, e os cidadãos nos dias mais comuns se sentem em uma condição ideal: sem reflexão, sem perguntar pela origem, eles se tornam partícipes do mais elevado gozo ético e religioso. Se as pessoas se acostumarem a entrar e sair da basílica de São Pedro, elas vão se deparar com um sentimento análogo ao que ousamos exprimir.

Em contrapartida, o cidadão em uma cidade pessimamente construída, onde o acaso varreu com uma triste vassoura todas as casas umas para junto das outras, vive inconscientemente no deserto de um estado pessoal sombrio. Não obstante, o estrangeiro que entra na cidade se sente bem, como se ouvisse gaita, flautim e rufar de tambores e precisasse se preparar para assistir às danças de ursos e saltos de macacos.

(Goethe, Máximas e Reflexões, Forense Universitária, 2003, p. 119-120)

Aforismos

Roma, Londres, Cartago não passam de nuvens mais duradouras, que se transformam, para, por fim, se desvanecerem. Como é frequente o homem considerar essencialmente diferentes coisas que só o são pouco mais ou menos!

(Lichtenberg, Aforismos, Editorial Estampa, 1974, p. 31)

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Máximas e Reflexões

"A peculiaridade da expressão é o começo e o fim de toda arte. Agora, porém, cada nação tem uma propriedade particular que se desvia da característica genérica da humanidade, uma propriedade que pode se mostrar em verdade como repugnante para nós no início, mas que, por fim, quando passa a nos agradar, quando nos entregamos a ela, acaba por subjugar e esgamar nossa própria narureza característica".

(Goethe, Máximas e Reflexões, p. 146, Ed. Forense Universitária, 2003)

Carta sobre a Felicidade (a Meneceu)

"Que ninguém hesite em se dedicar à filosofia enquanto jovem, nem se canse de fazê-lo depois de velho, porque ninguém jamais é demasiado jovem ou demasiado velho para alcançar a saúde do espírito. Quem afirma que a hora de dedicar-se à filosofia ainda não chegou, ou que ela já passou, é como se dissersse que ainda não chegou ou que já passou a hora de ser feliz. Desse modo, a filosofia é útil tanto ao jovem quanto ao velho: para quem está envelhecendo sentir-se rejuvenescer através da grata recordação das coisas que já se foram, e para o jovem poder envelhecer sem sentir medo das coisas que estão por vir; é necessário, portanto, cuidar das coisas que trazem a felicidade, já que, estando esta presente, tudo temos, e, sem ela, tudo fazemos para alcançá-la".

(Epicuro, Carta sobre a Felicidade (a Meneceu), p. 21-23, Ed. UNESP, 2002)

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Pêcheur d'Islande

En général, on ne voyait pas loin autour de soi; à quelques certaines de mètres, tout paraissait finir en espèces d'épouvantes vagues, en crêtes blêmes qui se hérissaient, fermant la vue. On se croyait toujours au milieu d'une scène restreinte, bien que perpétuellement changeante; et, d'ailleurs, les choses étaient noyées dans cette sorte de fumée d'eau qui fuyait en nuage, avec une extrême vitesse, sur toute la surface de la mer.

(Pierre Loti, Pêcheus d'Islande - ainda não tive tempo de traduzir)

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Schopenhauer Educador

"No fundo, todo homem sabe muito bem que só viverá uma vez, que é um caso único, e que jamais o acaso, por mais caprichoso que seja, poderá reunir duas vezes uma variedade tão singular de qualidades fundidas em um todo"

(Nietzsche, III Consideração Intempestiva - Schopenhauer Educador)

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Ternura

Ternura


Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentado
Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras dos véus da alma...
É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta, muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem sem fatalidade o olhar
[ extático da aurora.


(retirado do site Releituras)

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Eu & Outras Poesias

Solilóquio de um Visionário

Para desvirginar o labirinto
Do velho e metafísico Mistério,
Comi meus olhos crus no cemitério,
Numa antropofagia de faminto!

A digestão desse manjar funéreo
Tornado sangue transformou-me o instinto
De humanas impressões. visuais que eu sinto,
Nas divinas visões do íncola etéreo!

Vestido de Hidrogenio incandescente,
Vaguei um século, improficuamente,
Pelas monotonias siderais...

Subi talvez ás máximas alturas,
Mas, se hoje volto assim, com a alma às escuras,
É necessário que ainda eu suba mais!

(Augusto dos Anjos, Obra Completa, 1996, p. 232, Ed. Nova Aguilar)

Também disponível em: http://migre.me/26urJ

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Carlota em Weimar

O homem tem de se transformar em ruína. Mas é uma coisa grande e maravilhosa essa ruína e essa idade, e uma invenção risonha da bondade eterna que o homem esteja contente com suas condições e que estas consigam adaptar-se a ele, que esteja de acordo com elas e que sejam tão suas quanto ele é delas. Você envelhece, torna-se um ancião e contempla com benevolência, mas com certo menosprezo, a juventude, o povo composto de pardais. Gostaria de voltar a ser jovem, voltar a ser o pardal de então? O pardal escreveu Werther com uma leveza ridícula, mas já era alguma coisa, para a idade. Mas viver e envelhecer! Isso é que é. Todo o heroísmo consiste em perdurar, na vontade de viver e de não morrer, isto é, só a velhice chega à grandeza. Um jovem pode ser um gênio, mas não pode ser grande. A grandeza está somente no poder, com o peso permanente e o espírito da velhice. Poder e espírito, essa é a velhice e a grandeza, e também o amor. Que é o amor juvenil diante do poder espiritual do amor da velhice? Que festa de pardais não é o amor da juventude diante desse galanteio desvanecedor que a graciosa juventude experimenta quando é escolhida amorosamente pela grandeza da velhice e a eleva, e enfeita sua delicadeza com um poderoso sentimento espiritual, diante da felicidade colorida com que brilha a grande velhice, assegurada na vida, quando a juventude a ama? Obrigado, bondade eterna! Tudo se torna cada vez mais belo, mais significativo, mais poderoso e mais solene. E assim por diante!

A isso eu chamo restabelecer-se. Se o sonho não pode fazê-lo, o pensamento o fará.

(Thomas Mann, Carlota em Weimar, p. 250-251, Ed. Nova Fronteira)

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

A Biblioteca de Babel

"A Biblioteca existe ab aeterno. Dessa verdade, cujo corolário imediato é a eternidade futura do mundo, nenhuma mente razoável pode duvidar. O homem, o bibliotecário imperfeito, pode ser obra da sorte ou dos demiurgos malévolos; o universo, com sua elegante dotação de prateleiras, de tomos enigmáticos, de escadas infatigáveis para o viajante e de latrinas para o bibliotecário sentado, somente pode ser criação de um deus. Para perceber a distância que há entre o divino e o humano, basta comparar estes rudes símbolos que minha mão falível garatuja na capa de um livro, com as letras orgânicas do interior: pontuais, delicadas, negríssimas, inimitavelmente simétricas." (Jorge Luís Borges, “A Biblioteca de Babel”, Ed. Abril, 1972, p. 86)

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

A Imaginação

A imaginação parece, na verdade, não possuir leis, talvez seja como um sonho em estado de vigília, que oscila incondicionalmente de um lado para o outro. Mas para possuí-la é preciso regrá-la de diversas maneiras, mediante o sentimento, mediante incentivos éticos, mediante necessidades do agir [?] e da maneira a mais feliz mediante o gosto, por meio do qual a razão se apodera de cada matéria e de todos os elementos.

(Goethe, A Imaginação, Escritos Sobre Arte, p. 255)